segunda-feira, 28 de março de 2011

RAID 2 - EXPRESSÕES E MOVIMENTOS

Olho através de um portal para um mundo que só me pertence à noite, quando sonho. A vida podia ser toda um sonho. Já não há mais nada para ver aqui, estou cansada e a minha mente já repete frases. Tenho medo do vício da vida. Sigo então em frente, na insegurança de que sou ‘’viver’’ para sempre em relutância.



Estes olhos que me prendem à fantasia que é viver. Lavo os dentes e ensopo o aparelho dentário, na espera de que desapareça. As princesas não usam aparelho, nem precisam de lavar os dentes. Nascem e morrem perfeitas. Acordam e deitam-se incorrigivelmente limpas, cheirosas e bonitas. E eu acredito que sou assim. Ou vou ser amanhã, longe do tempo que me leva a tarde amarela…
E já acabei de lavar os dentes. E parece que o aparelho não desapareceu. Ao que me parece e me contam, pelos vistos, a fada dos dentes é mesmo só fada dos dentes e não fada dos aparelhos. Podia levar-mo durante a noite, ou fazer-me ma surpresa enquanto gasto tempo com o fio dental para cá e para lá.



É o confronto fatal entre o que fui e o que sou. É a inveja, por já não ser aquela criança, aquele miúdo, aquela miúda, aquele ser humano que achava uma mota um todo-o-terreno. Quer voltar atrás, embora com noção das responsabilidades que evolam a minha maneira de sonhar.
Porque a vida não se baseia apenas em fazer aquilo que os outros pedem e querem. A vida cai sobre o facto de existirmos não por um acaso, não por um engano, não por azar. Existimos por uma razão, há um motivo envolvente. Isso é muito difícil de explicar.




SENTE! Esta confusão na minha cabeça.
OLHA! O meu esqueleto aos saltos dentro deste saco de pele infame.
OUVE! Os gritos da minha roupa que se rasga de cansaço.
GRITA! Para os meus fantasmas te ouvirem e fugirem a sete pés.
SABOREIA! Os meus lábios quando loucos sorvendo cada momento de calma.


Reflicto-me nas tuas mágoas mais obscuras.
Sou aquele ou aquela (isso já depende dos teus gostos) que te atormenta os pesadelos tornando-os piores.
Sou a pessoa de quem tu tens aquela subconsciente inveja que te trai. Que te apunhala.
Sou quem não compreendes.
Sou quem criticas.
Sou livre.


Sou dono do mundo. sou e quem manda. Sou a pura diversão das tardes livres. Sou recreio em mim próprio. O meu corpo reflecte o que os meus olhos vêm. A minha mente decora os cânticos das pareces. Sou eu quem manda nos outros que me ignoram. Sou eu quem faz o que os sonhos pedem. Idealizo as formas que se constroem mesmo à minha frente. Analiso, firmemente, cada traço, cada passo que as senhoras que se vestem de preto têm e dão, quando se atravessam à minha frente na rua. Dizem que sou ruim. Pois eu acho-me excelente.



Olhem para mim. Frágil como um batom estendido no chão. Fraca. Cansada. Um corpo com pouca utilidade, em tempos breves e presentes na alma. Pelo menos por dentro. Nas entranhas dos sentidos. Nos órgãos vitais da saúde e da doença, da alegria e da tristeza. Sinto-me um elo sem corrente, mas polido. Estou saudável, em termos de lucidez. Sou adulta ainda, na cabeça. Apesar de me deixar e de deixar esta calçada vazia, a que chamo vida, ou aventura em dias cruéis de chuva, em maus dias, de sol e calor. Estou viva por estar ligada à máquina da vergonha de morrer. Morro então com ciúmes de quem já tem morrido enquanto dorme. Mas sei que ainda vou aprender.




Fotografo na memória cada pedaço das minhas tardes. De cada tarde pacata e vândala que invade cada segundo do meu tempo. Sinto-me alegadamente a realizar o pecado da luxúria, em frente ao mundo, quando como um doce. É um minuto do trabalho que podia estar a fazer. É um pouco de leitura de calculadora que desperdiço a ver as ruas e o mundo. Não é muito justo descobrir o que se fez ou deixou de se fazer só por causa de causas perdidas. É um facto.

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